quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Poesias Inéditas

I

Trago comigo a verdade do pensamento,
Desencadeado no frescor da minha alma
Que corre como um rio isento,
Cheio de fado; cheio de palma.

A emoção contida na profundeza
Carrego-a para o fim do mundo,
Com a tamanha certeza de
Que morrerei bem lá no fundo.

Da janela te avistarei sombria,
Num quadro negro de ousadia.
As mãos que levarás ao peito
Sentir-se-ão carregadas do teu feito.


Poesias Inéditas


Cai misteriosa e esbelta,
Que iluminas todas as janelas,
Assombrosa nua e celta,
Trazes ao rubro toda a beleza singela.

Crescente e divinal na sua plenidão
Numa marcha lenta e libertina,
Nívea redonda bola suspensa de natrão.

E permaneço sentado á beira da janela
Olhando para ti, pura e bela.


Latimpoli dos Santos


Foram falsas promessas citadas,
Nas nossas vidas cruzadas.
Foram sorrisos abertos,
De calmos e afáveis afectos

De simples palavras rezadas,
Volveram-se em grandes cruzadas,
Nos olhares longínquos que trocamos
Abraços sentidos que desconsideramos.

Foram noites claras trocadas
Foi um adeus, desatado,
Em silvestres picardias
Reunidas em memória da tua alquimia.




Latimpoli dos Santos


Sublime distância que me corrói,
No ventre do meu ser,
Pensando sempre me destrói
Em virtude de o ser e de não o ter.

Ah! Quanta coisa em mim desejei.
Quantas palavras em vão!?
Quantos mundos em mim criei?
E o velhote calmamente me observa até então...

Inerte e vigoroso sentado na pedra,
Calmamente pensante espera...
E sempre que a noite o abate medra,
Na nobre meditação que esmera.



Poesias Inéditas


Depois de um adeus; uma volta,
De tormentos adormecidos dentro de nós,
Como imoles de pecados da revolta
Do invólucro seio da união.

O espelho que envolve o meu ser,
Vai-se dissipando no interior,
A luz que o vai tentando manter
Devém na névoa húmida que o vai conter.

A luz que ilumina,
Deveras cintilante e cristalina,
Reflecte-se na pedra
Como a cristandade do lítico.


Latimpoli dos Santos


Colhi a rosa no campo,
Por amor á verdade,
A cruz que carrego no entanto
Não tem qualquer cristandade.

Oh! Serras altas e firmes.
Oh! Vendavais de nevoeiros crespados,
Onde descem os serranos com os timbres
cheios de força e engenho alienados.

Faça-se o Sol ouvir a noite,
Que o espera tardiamente,
Chame-se o incandescente
E que este brandamente poise.



Poesias Inéditas


A bruma que vai a passar
Esconde-me a visão do tempo,
O mistério que vai naufragar
Pelo mar a dentro.

Um estrondo se ouviu,
No rugir do mar brando
Um vento que latiu
E que foi mutilando.

Naveguesse pelos mares a dentro
Cheios de alma e desejo,
Os homens que trazem o vento
Levam ao peito o ensejo.



Latimpoli dos Santos

II

Quantas palavras deixaste cair
Na noite chorosa e nua?
As mesmas palavras hão-de sair
Por detrás de cada Lua.

Trazes ao peito cravada a rosa negra
Cheia de soluços guardados,
Com sentimentos estilhaçados
Coberta de lágrimas entrelaçadas

Na noite severa e crua,
Me olhaste com despejo,
Vestida com a cor nua
Me chamaste com desejo.


Poesias Inéditas


Lá fora, aclamaste a minha volta,
Ouvi-te muda por dentro,
Lacraste em mi o sentimento
Que se tornou numa granjola.

A noite que me perseguiu o intento
Inesperado e fundamente
Anelado, cheio de vida e isento,
Que te ansiava descontenta mente...

Oh! Cruz da insensata cegueira,
Oh! tratantes dos desonrados céus,
Caminhareis para a fogueira
Sem que a mão vos salve de réus,


Latimpoli dos Santos


A ordem a que vós pertenceis
Virou as costas ao povo,
Pois nunca conhecereis
A verdade em que me envolvo,

Na fala mestra dos compreendidos,
Sobrevive a razão oculta:
Que poucos dela são entendidos
Senão daquela que vos insulta.

Pois vós caminhareis sempre
Numa agonia constante,
Num pensamento que centre
A vossa vontade irrelevante.

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